quinta-feira, 21 de março de 2024

COM CARINHO

   

Meu filho e um livro - Arquivo JRS

  Eu acordei pensando na família, sobretudo na aniversariante Maria Eugênia, nossa querida filha.  Na primeira página da minha leitura, no livro Natureza Selvagem, a autora (Miriam Lancewood) deixa uma mensagem admirável. Vale para mim, vale para todos. Bom dia e boa reflexão, gente  do bem!

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Oh, mães,

Beijem seus filhos antes que o dia termine. Deixe que a verdade sempre os ilumine. Façam com que saiam e tenham a sua vez como minha mãe comigo assim o fez.


Oh, pais,

Cantem uma carinhosa canção a seus pequenos sobre a terra à qual todos nós pertencemos. Cantem sobre o amor e sobre a liberdade como cantou meu pai na minha mais tenra idade.

sexta-feira, 15 de março de 2024

TEMPEROS PARA O VIVER

 

Temperos - Arquivo JRS

     Diante de acontecimentos políticos recentes, voltei a pensar no descaso para com a Educação e Cultura. Qual sociedade evolui com ignorância? E retomei a poesia de tempo atrás:


Esta ideia mal resolvida

Essa gente má

Mistura de milicianos

E fanáticos crentes

Cimentados com ignorância

E ruindades em geral,


É, este país vai mal!


      Há muitos fatos que abalam, modificam culturas, podendo até fazer com que desapareçam. Por esses dias, recebendo notícias das posições políticas mais reacionárias no Brasil e no mundo, vou chegando à conclusão que modernidade desaba. É triste perceber que a racionalidade está sofisticando a violência, dando retoques nos requintes de crueldade e, pior, disciplinando os mais fracos para isto: ser contra eles mesmos. O que ocorre é uma alteração da vontade de vida que se encontrava nas culturas originárias. Eu, enquanto pertencente à cultura caiçara, não quero tal modelo de sociedade. Portanto, devo me agarrar às minhas raízes, continuar aprendendo com diversos aspectos da diversidade cultural que me rodeia, me fazer "dono do sim e do não diante da infinita beleza" que é esta Terra, conforme escreveu a filósofa Viviane Mosé. Eu tenho a convicção de que as pessoas amigas, a Educação e a Cultura podem me guiar nesse empenho de preservar a Vida.

quinta-feira, 7 de março de 2024

ONDE ESTÁ A VIDA?

 

Mar bravo - Arquivo JRS

    O mar estava tentador para quem adora a energia das ondas. Muitas pranchas ilustravam aquele azul que sumia de vista. O sol castigava. O adolescente Juninho estava entre aquelas pessoas que aproveitavam as imensas ondas.

   Surfar é coisa relativamente nova em Ubatuba, de meados da década de 1970. Naquele tempo apenas a Praia Grande servia à prática desse esporte, pois a rodovia BR-101 (Ubatuba-Paraty) ainda não se completara para revelar a famosa Itamambuca e outras do lado norte do município. Pouca gente tinha condições para adquirir prancha naquela época. Também eram poucos os admiradores do novo esporte. Prazer era tomar banho de mar, pegar jacaré (descer na onda usando apenas o corpo), jogar futebol na areia e paquerar. Ouso dizer que, dentre aqueles surfistas, poucos eram destemidos. Assim, em dias de fortíssimas ondas, a maioria ficava na areia. Eram denominados de "paneleiros". Os bermudões floridos/coloridos marcaram época. O jovem da nossa história não era desse tempo. A sua prancha era de isopor.

   Os pais de Juninho, migrantes, eram caseiros, tomavam conta de uma mansão que ocupava parte do morro e da costeira de Praia Vermelha, a Vermelhinha. Naquele dia distante ele deixou a água para nos acompanhar. Os lábios sangravam porque, para quase todo mundo, protetor solar era algo desconhecido. Logo estávamos no acesso à casa. Um remanso na costeira revelava mariscos (mexilhões) e tantas outras iguarias que o mar oferece aos povos litorâneos desde os primórdios. Eu fui catando os maiores, sobretudo mariscos e saquaritás. Qual caiçara desprezaria esses frutos do mar? Com certeza seria um reforço no almoço que a pobre senhora nos ofereceria. Fui chegando, cumprimentado a mãe e filhos menores. O pai estava ausente, fazendo uns "bicos"  para melhorar as condições de sobrevivência da família. Notei que a parte elétrica na área que abrigava aquela gente estava feia, bem arruinada. Pensei: "Sabe quando o patrão vai se importar com isso? Nunca!". Então decidi: enquanto proseava eu iria fazendo os reparos possíveis. Era o mínimo que eu poderia retribuir pela acolhida e aprendizado com aquela família. Hoje o Juninho é um profissional de renome na comunicação, na propaganda. Trabalha há anos na capital paulista. É migrante lá, assim como os pais que se mudaram para Ubatuba há  décadas. Tempos atrás eu o encontrei num supermercado, estava desfrutando de um feriado prolongado. "Faço isto sempre que posso, Zé. Não perco nenhuma oportunidade. Foi aqui que me fiz e é aqui que me refaço para enfrentar o cotidiano na cidade grande". Resumindo: aquele adolescente radiante de outrora, fruto de uma educação/vivência no território/cultura caiçara, continua do mesmo jeito, animando a gente. Me pergunto agora: quantas pessoas reconhecem uma dívida para com a natureza e cultura desta cidade, desta Ubatuba?

quarta-feira, 6 de março de 2024

REINO DA DELICADEZA

Bromélia - Arquivo JRS


Um cipó e sua flor roxa,

Passarinho preto me visitando,

Vento balançando tudo.


Galo cantando desde a escuridão,

Sons agradáveis (de longe e de perto),

Coração que não é mudo.


Aromas pelos caminhos,

Saudades de gente amiga,

Bebês chegando sob encanto.


Maria Cecília, Miguel... 

Novas esperanças e alegrias:

Sonhos de acalanto.

sexta-feira, 1 de março de 2024

UMA TRADIÇÃO

  

Um galho no telhado - Arquivo JRS

   Um novo dia vem se anunciando. Refleti durante o repouso o quanto as pessoas são dominadas, usadas para que terceiros continuem se aproveitando delas. As pressões são diversas, desde as discretas mensagens revestidas em roupagens sagradas até o uso da força bruta, ameaças de demissões, de perda de “benefícios” etc. Assim é este mundo: está fortemente baseado no princípio de que a satisfação de alguns é resultado da desventura de outros. Neste momento em que muita gente já está em busca de um alimento para a manhã que vem enxotando a noite, me recordei de uma tradição do meu finado pai.

   Papai fazia de tudo um pouco, mas era carpinteiro. Eu e meus irmãos aprendemos um pouco convivendo nas obras, acompanhando seus trabalhos. Ele tinha seus rituais na realização das tarefas, mas deixava que os filhos, por teimosia, fizessem coisas diferentes, adotassem outros procedimentos. Ou seja: a gente aprendia com ele, mas ele também adquiria outros pontos de vista com a ousadia dos mais novos. A tradição a que me referi era a inauguração da cobertura de casas. Estranho? Nada! Explico: após colocar a última telha sobre o madeiramento, ele ia até o mato mais perto, cortava um considerável galho de árvore e pregava na cumeeira da casa. Ficava vistoso, chamava a atenção aquele galho verde no alto. Estava inaugurado o telhado. Ele dizia que era uma maneira de pedir a proteção da casa. Muitas pessoas da cultura caiçara ao verem aquilo sabia do que se tratava. Aquele galho permaneceria no alto por ao menos uma semana, quando perderia as folhas. Até hoje não sei de onde veio esse ritual, mas sigo repetindo-o por acreditar na mensagem, por lembrar do meu pai e por gostar dessa tradição.

 

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

PENSANDO ENTRE TIJOLOS


 

Domingos da Sete Fontes - Arquivo Memória

     Eu  estava na obra até agorinha mesmo assentando tijolos. A colher de pedreiro, o prumo e o nível são importantes instrumentos nessa etapa. De repente me deparo contemplando o nível. É de ferro, pesado, grande. Bem antigo. Nunca tinha visto um igual até aquela data, há alguns anos, quando o recebi de presente da amiga Mirtes Harumi Honda. “Pertenceu ao meu querido pai. Acho que estava com ele desde os primórdios, quando chegou do Japão. Agora é seu”. Outros muitos presentes (molinete, martelo etc.) aceitei com muito carinho naquele dia, quando a estimada Mirtes estava se mudando de casa.

 

    A  história do Sr. Honda  eu guardei apenas em partes. Soube que era um exímio calígrafo, função muito respeitada na sua terra natal. No Brasil se tornou comerciante. Tive o prazer de apreciar seus fragmentos de textos, suas mensagens que ocupavam espaços em sua residência, no centro da cidade de Ubatuba. Admirei suas esculturas, escutei suas  aventuras e  aprendi muito das suas paixões. Devotado à família, juntamente com a esposa (Dona Hamako), educou magistralmente seus rebentos. Em Ubatuba, pescou muito pelas costeiras sempre acompanhado pela fiel companheira, cuja honra eu tive em transcrever as memórias, sob o título O caderno de Hamako. Agora, olhando esse instrumento, imaginei o Velho Honda ali, fazendo comentários, segurando aquela peça, dizendo dos trabalhos que realizou, se sentindo feliz por eu tê-la recebido.  Talvez até dizendo que eu herdei  traços de sua personalidade que acompanham seus instrumentos. Eu acredito nisto e creio que faz parte da mística caiçara. É assim que vamos conhecendo o mundo. Já escreveu o filósofo Nietzsche: “O homem conhece o mundo à medida que se conhece: a sua profundidade desvela-se-lhe à medida que se espanta de si próprio  e de sua complexidade”. Portando, olhar, admirar, imaginar os momentos que alguém viveu ao utilizar ferramentas, máquinas etc., me leva a contemplar a grandiosidade da humanidade, de acreditar que grande parte dela sustenta profundas esperanças capazes de reorientar nossas vidas e de garantir a vida dos demais seres que compartilham deste planeta.

terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

NAS ALTURAS

    A Mantiqueira está verdejante. A Serra do Mar está depois do Vale do Paraíba. O mar está longe. Por todo lado a classe trabalhadora dá a dinâmica da sociedade humana. Há uma grande massa que se movimenta desde a madrugada, que dá vida ao país.  Exuberante mesmo é a natureza! Os estragos (pequenos e grandes) são causados pelos homens, sobretudo os mais cobiçosos e ignorantes. Assim vai se poluindo rios, mares, ar, matas etc. O grande desafio é refazer narrativas, rever conceitos para compreender o que significa a interdependência de tudo que há na Terra. A verdade é uma só: nós até podemos nos dizimar, mas a natureza se reconstruirá sem nós. Pena que muitos seres também serão dizimados certamente para sempre. Por isso é essencial o papel da educação (formal e informal, popular e erudita...). Assim, neste começo de ano letivo por todo o Brasil, quero desejar à classe dos professores e professoras muita energia. Muita boa energia! Vamos nos libertar de toda a negatividade, de todo espírito de destruição que por ventura resista em nós. Desejemos/construamos um ar puro, uma água renovadora, uma sociedade solidária, um mundo de justiça... Já dizia o finado tio Clemente, nascido na praia da Fortaleza: "Todos nascem filhos de Deus, mas no decorrer da vida há aqueles  que  se tornam discípulos do Diabo". Concordo com ele. São estes últimos que jogam contra a felicidade para todos, que seduzem mais gente para o lado deles e infernizam a vida dos mortais. Ou seja: céu e inferno é aqui, dependem de nós. Enfim, uma vida melhor para todas as pessoas é o espírito deste dia e de cada novo alvorecer em minha vida. Espero que para cada leitor deste blog seja o mesmo. Força, minha gente!